sábado, 24 de outubro de 2015

Léo e Bia... Capítulo 6


Capítulo 6 – Se conhecendo melhor
"Eu conheci uma morena que me deixou amarrado... Deixei a linda pequena, por deus confesso desconsolado... Mudei meu jeito de ser... Bebendo pra esquecer os 60 dias apaixonado."
Sessenta dias Apaixonado – Vitor e Léo
           
Cheguei à faculdade naquela segunda feira bem diferente de quando saí na sexta.
            Para quem jurou vingança em uma festa de república, um final de semana foi o suficiente para mudar todos os pré-conceitos em relação a Leonardo.
            Me ver suspirando e acima de tudo o procurando com o olhar, assim que botei os pés na Federal, era uma diferença gritante.
Porém, quem veio na minha direção correndo como sempre foi Jessy e isso foi bom, pois queria saber como estava evoluindo sua relação, agora instalada, com André.
-Bom dia, amiga! – ela me abraçou.
-Bom dia, Jessianny! Pela animação você tem novidades para sua amiga aqui, não é?
-Acho que não sou só eu – ela piscou para mim.
-Não sei do que está falando? – me fiz de desentendida.
-Sabe sim – balançou a cabeça como uma criança de oito anos. – Qual foi a última voz que tu ouviu ontem, Maria Beatriz?
-Ai, Jessy, só por isso – dei de ombros. – Vamos falar de ti, – cutuquei vendo-a corar – pelo jeito tu tens muita coisa para me contar. Desembucha. – sorrimos e fomos andando até nossa sala de aula.
-O André é uma gracinha, ainda não rolou nada...
-Esse ainda me animou – a interrompi.
-Deixe continuar – me olhou feio, fazendo-me gargalhar.
-Conta.                                          
-É claro que ainda sou a irmã do seu melhor amigo, mas nossa conversa no sábado e ontem...
-Ontem?
-Maria Beatriz – ralhou novamente.
-Desculpe – fechei a boca em sinal de zíper.
-Ele foi até em casa ontem procurar o Léo...
-O Léo? Sei.
-Não vou mais contar – fez birra.
-Amiga, está muito interessante isso, conte logo.
-A gente conversou...
-Bia – senti meu corpo inteiro gelar ao ouvir sua voz. – Bom dia.
-Bom dia, Léo – virei para trás, de onde ele vinha, sorrindo e escutei Jessianny suspirar.
-Tu estás bem? – aproximou-se, beijando meu rosto.
-Estou e você?
-Agora melhor – sorrimos, mas Jessy nos tirou da nossa bolha.
-Está tudo muito bom, muito lindo, mas temos que entrar, Bia – ela me puxou.
-Desculpa por não ter acompanhado vocês hoje, mas tive umas coisas para resolver.
-Algo sério? – ele sorriu da minha preocupação, que pendia muito mais para ciúme.
-Não, só as contagens dos convites vendidos da festa de sexta. E já descobri quem vendeu os ingressos para vocês, gurias.
-E vai arrebentar a cara dele?
-Não, Jessianny – fuzilou a irmã com o olhar. – Mas a partir de agora os convites de vocês já serão separados por mim – nossa que diferença. – Eu entendi que precisam se divertir também e não era da boca para fora que estava falando isso. – nossos olhos se cruzaram e percebi que apesar de todos os defeitos de Leonardo, ele não sabia mentir.
-Obrigada.
-Eu que agradeço – falou ainda com nossos olhos conectados.
-Também agradeço – Jessy pulava de um lado para o outro. – Mas vamos, Bia – me puxou.
-Vamos. Até mais, Léo.
-Te espero na saída.
-Não precisa, os trotes já acabaram.
-Não são pelos trotes – beijou meu rosto novamente perto da boca e saiu.
-Acho que não sou a única suspirando aqui, amiga.
-Para, Jessianny!
-Parei, cunhadinha.
-Jessianny! – rimos e fomos para nossa sala.
Durante aquela manhã ela me contou que André, dando a desculpa de ir atrás de Léo, foi até a fazenda e passou à tarde com ela conversando e se entendendo, digamos assim.
Também tive que contar os detalhes sobre a tarde que havia passado com seu irmão, e para Jessy não escondi a ida ao mirante, como fiz com João. Mas depois me arrependi, pois ela surtou, dizendo que estava diante da cunhada mais linda e única. Ralhei, é claro. Mas não adiantava, porque também estava começando a gostar da ideia.
Nossa semana passou voando e não foi muito diferente do que aquela segunda-feira. Léo e André nos acompanhavam onde quer que fossemos dentro do campus e foi ali que percebi que o loirinho também estava gostando da minha amiga. Na sexta-feira, quase no final da tarde, sorri feito uma boba quando vi Léo se aproximar de nós três, já que André estava praticamente colado em Jessy, sacudindo o que parecia ser convites.
-Vocês não sabem o que tenho aqui?
-Está vendo alguma bola de cristal por aqui, Leonardo? – Jessy e André gargalharam da cara feia que Léo fez para mim.
-Marrentinha, tu não tens jeito – acabou sorrindo junto. – Não deveria nem mostrar isso para ti, então. Tu és muito mal criada – voei para cima dele, que jogou os braços para cima.
-Me deixa ver – pulei tentando alcançar.
-Não.
            -Parecem duas crianças – escutei André dizer enquanto ainda tentava pegar seu braço. – Mostre logo para a guria, Léo.
            -Reservei a área vip para o show da Gurizada?
            -Gurizada?
            -Gurizada Fandangueira. A banda que Léo venera.
-Eu lá só homem de venerar banda, Jessianny? Apenas gosto do som dos caras. São tipicamente gaucho.
-Então eu vou gostar – sorri para ele.
-Hoje tem roda de viola na fazenda. Aí eu mostro para ti.
-Se tocar Gurizada para o pessoal da fazenda é capaz deles arredarem com você de lá.
-Está ficando engraçadinho como a dona Maria Beatriz, não é, André?
-Não resisti, cara – todos nós gargalhamos, menos Léo. Então me aproximei.
-Eu quero conhecer.
-Você vai – tocou minha mão levemente e aquele pequeno gesto fez com que meu coração acelerasse. – À noite passo para te pegar.
-Não precisa, vou com o pai. Ele não fala em outra coisa, a não ser dessa roda de viola – revirei os olhos.
-Tem certeza?
-Tenho. Eu vou. Pode deixar – sorrimos, entrando naquele mundinho só nosso. – Vejo vocês à noite – me despedi, beijando a bochecha dos três e saí. Pois passar mais um minuto perto de Léo e não poder beijá-lo seria complicado.
Sim, eu o queria. Quem eu enganava com essa história de menina difícil.
...
            -Boa noite, pessoal? – João cumprimentou todos que já estavam em volta da fogueira, assim que chegamos à fazenda.
            -Boa noite, Delegado – todos responderam com respeito, então eu vi dona Luíza se aproximar com o marido.
            -Minha filha, que bom que está de volta – eles me abraçaram – e já sabemos que aquele cabeça dura já se redimiu – os dois riram.
            -Redimir do quê?
            -Nada, pai. Já passou – sorri para o casal na minha frente.
            -Bia – nem precisei perguntar do filho deles. – Pensei que não viesse mais.
Léo estava com uma jaqueta marrom e um jeans apertado, que o deixava ainda mais lindo. Pare, Maria Beatriz! - ralhei comigo mesma.
-Boa noite, Delegado.
-Boa noite, Léo.
-Vem, quero te mostrar a banda – puxou-me pela mão.
-Vocês me dão licença? 
-Toda, filha – eles nos olharam, como se estivessem nos casando. Balancei a cabeça, envergonhada.
Será que estava tão nítido assim? Não, eles estão assim desde o primeiro dia que cheguei e trombei com o peão garanhão, tirando-me todo o sossego do coração.
Léo me puxou animado, até trombarmos com um moço de quase dois metros de altura, com cabelos castanhos e muito bem arrumados.
-Já ia levar sua marrentinha para longe? Está com medo da concorrência, moço?
-Cala a boca, Boi – mesmo sem saber de quem se tratava, estava me divertindo com a briga dos dois. – Bia, esse é o Boi, quer dizer, Luis Carlos, mas não adianta chamá-lo assim, só quem faz e ainda quando está brava, é a Zefa, a mãe dele. Mas nem ele sabe mais seu nome de verdade.
-Prazer, Boi – lhe estendi a mão.
-O prazer é todo meu, marrentinha – revirei os olhos.
-Tu andas espalhando meu apelido por aí, Leonardo? – olhei feio para ele.
-Não, marrentinha – fuzilou o amigo com o olhar.
-Vou explicar para ti, guria – Boi passou o braço nos meus ombros e gostei da cara de Léo querendo o matar por isso. – Eu e esse cara ai, – apontou para a pessoa que não havia soltado nossas mãos entrelaçadas – somos amigos desde que saímos das fraldas, então...
-Já entendi, é um prazer conhecer mais uma pessoa que convive com esse ser desde as fraldas, quem sabe você pode me ajudar – pisquei para ele.
-Vai me usar para seus experimentos?
-Depois que a doida cantou para a Mimosa prenha, não me espanto com mais nada, moço – Léo fez uma cara engraçada quando Boi terminou de falar e a impressão que eu tinha era que ele tentava avisar o amigo que aquele assunto me deixava furiosa.
-Alguma coisa contra, guri? – tentei parecer brava. Mas o brutamonte se encolheu, fazendo-me gargalhar. –Vocês são muito machos, não é?
-Nossa Senhora! Ela é terrível mesmo, mas gostei de ti, guria – bateu na minha mão desocupada.
-Também gostei de você, só que, por favor, sei ser brava também. Um pio a mais sobre o episodio de sucesso do parto da Mimosa – olhei para Léo – e vou ficar muito irritada de verdade.
-Sem mais um pio. Já fiquei sabendo o que acontece quando tu ficas brava de verdade – ele grudou sua boca com as mãos e gargalhei. Pois tinha botado respeito entre os grandões, gaúchos e machos da cidade. – Vamos para roda, onde vocês pensam que vão? Guri, ela é filha do delegado, não esqueça.
-Para de falar asneira, Boi. Só vou levar a Bia para escutar a Gurizada, ela não conhece – só isso. Que pena. Pensei... Mas logo balancei a cabeça em negação.
-Então você vai também amanhã, marrentinha?
-Vou – revirei os olhos, rindo.
-Vem, deixa esse ogro pra lá – sorri e me deixei ser puxada para a caminhonete.
-Tchau, Boi.
-Tchau, marrentinha. E… Comportem-se – ele gargalhou e foi na direção da fogueira.
Já na caminhonete estava me divertindo com o som dos caras que o Léo gostava.
-É muito bom mesmo – devolvi o cigarro que estávamos dividindo.
-Sabia que ia gostar – ele sorriu orgulhoso. – Então o Delegado não sabe que tu fumas? – esse era um assunto muito chato para mim. Odiava ter que mentir para João, mas detestaria mais ainda lhe causar um desgosto desses. Ele sempre implicou com Maria Elisa por conta do cigarro e por isso prometi que assim que voltasse para Santa Maria pararia de fumar, porém Leonardo surgiu na minha vida e tudo desandou novamente. - Bia?
-Oi. Desculpa – sorri fracamente. – Eu não quero causar esse desgosto para ele, na verdade prometi a mim mesma que pararia, mas...
-Me encontrou e eu te botei no mau caminho de novo – hipnotizei o vendo puxar a fumaça. Por que ele tinha que ser tão lindo? Um pouco mais feio facilitaria bem a minha vida.
-Não, claro que não. As escolhas são minhas e ninguém pode nos induzir a nada – tentei usar os ensinamentos da faculdade.
-Gosto do seu jeito, psicóloga, de falar – sorriu, tocando meu rosto.
-Ah, é? – baixei os olhos, nervosa, para pegar a ponta do cigarro, pois eu era desastrada o suficiente para queimar algo no seu “carro relíquia”.
-Não gostas de falar muito sobre seu tempo de São Paulo, não é?
-É – disse simplesmente. – Quer dizer... É complicado. Um dia a gente conversa sobre isso – sorri para ele – agora estou em casa e quero me divertir.
-Pronta para amanhã?
-Mais que pronta. Animada!
-É assim que se fala. - E a tensão da conquista havia ficado para trás. – Vem, vamos para a roda. Devem estar procurando a gente.
-Vamos – Léo deu a volta no carro, abrindo o carro para mim e entrelaçando nossas mãos novamente.
-O cigarro será um segredo nosso e quem sabe podemos parar juntos.
Nossa! Com essa ele me surpreendeu.
-Não quero que faça nada que não queira, Léo – fui sincera, parando na sua frente.
-E quem disse que não quero – devolveu com a mesma intensidade de olhar. – Mas falamos disso depois, agora quero te mostrar mais uma coisa.
-O quê? – fiquei curiosa e o abracei, involuntariamente por conta do vento.
-Curiosa.
Chegamos à roda de viola, rindo um do o outro e Boi foi logo soltando uma de suas gracinhas.
-Eita que o casal chegou. Vem, Léo, toca para nós. Estamos esperando você – corei, é claro.
-Tu tocas? – perguntei admirada.
-Vem, era isso que queria mostrar.
Léo sentou em um banco ao lado de Boi, que concedeu gentilmente o seu lugar para mim.
Assim fiquei ao lado dos dois homens da minha vida, João e...
Ai, o que eu faço? Suspirei.
E quando ele pegou o violão, já familiarizado com o instrumento, deitei no ombro do pai, sem tirar os olhos do meu peão, enquanto ele cantava Sessenta dias apaixonado, música que só quem nascia no interior sabia o que significava, cantando toda letra.
-... É num copo que me afogo, sessenta dias apaixonado – Léo fez algumas graças com o violão, com todos nós cantamos juntos.
Foi lindo.
Ainda observei que Jessy e André, não se desgrudavam mais. Gargalhei com as piadas de Boi, que era uma figura, dando graças a Deus do vento gelado, que me fez ficar agarrada com Léo em uma briga para ele me emprestar sua jaqueta marrom, já que eu estava apenas um uma fina.
 E para terminar a noite com chave de ouro, Léo cantou Amigo Apaixonado, de Vitor e Léo e isso fez com que meu coração parasse de bater por um segundo.
Ser amiga de Leonardo era muito gostoso, mas eu queria mais.
Eu o queria para mim e não sabia como chegaríamos a alguma conclusão, pois ainda tinha dúvida se a recíproca era verdadeira.
Aí... Será? A música.
Dormi com a promessa que ele me fez quando me acompanhou até o carro, depois que a roda terminou.
-Amanhã a noite é nossa. Passo para te pegar. 
-Amanhã a noite é nossa, Leonardo Ávila – repeti agarrada ao Bartolomeu e olhando nossa foto.
E só Deus sabia o que nos esperava.









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