domingo, 11 de outubro de 2015

Léo e Bia... Capítulo 3



Capítulo 3 – O primeiro dia de aula
          "Conto Até Dez, imaginando abrir os olhos e te ver aqui...
Amanheceu e quer saber, ainda não dormi...
                                       Seu medo insiste em afastar meu sentimento...                              Eu conto até Dez, pedindo a Deus pra amenizar o sofrimento...                                                                                                                                                                             Pra que você entenda o quanto eu te quero... "
Conto Até Dez (part. George Henrique e Rodrigo ) Jorge e Mateus
           
Acordei naquela manhã de segunda feira com o celular despertando às sete horas. Me espreguicei olhando para a janela, vendo como o dia estava bonito.
            Criei coragem, levantei e quando fui até a sacada do meu quarto que me lembrei como a vista de casa era bonita.
            Morávamos perto de um morro e o nascer e pôr do sol tornava aquele lugar ainda mais especial.
            Aquela paisagem merecia uma foto.
            Foto?
            De repente, as fotos instantâneas do dia da quermesse me vieram à cabeça. O Léo havia ficado com elas.
            Sorri, pensando que teria que pedi-las para ele na faculdade.
            Tomei meu banho, me arrumando para meu primeiro dia de aula. E como não sabia como seria recebida na Federal, resolvi prender o cabelo em um rabo de cavalo, vestir meu jeans favorito com uma regata básica e antes de colocar meus óculos de grau quadrados passei uma maquiagem leve.
            Eu estava apresentável.
            Desci, encontrando João já à minha espera na cozinha, e depois de tomar café ele me levou para a faculdade, mesmo eu me sentindo uma criança de dez anos. Precisava dar um jeito nessas caronas. Não queria atrapalhar a vida do meu pai com isso.
            Assim que botei os pés na universidade, vi a movimentação dos veteranos pintando os bichos, exigindo pedágio e zoando.  Como meu curso estava começando esse ano, não teria desses problemas, eu acho.
            -Bia! – olhei para trás e vi Jessy se aproximando. – Bom dia! – sorrimos.
            -Bom dia!  Que bom que você chegou, estava com medo de atravessar esse campo minado sozinha – apontei para a bagunça na nossa frente.
            -Eu também estava, mas como nosso curso está começando agora, pensei que não teríamos grandes problemas. Na verdade quem vai ter problemas são eles – ela mostrou alguns meninos sendo pintados por Léo e sorri. – Os meninos da agronomia e da veterinária sofrem nas mãos desses ogros – balançou a cabeça.
            -Coitados – rimos.
            -Como foi teu final de semana, quer dizer seu domingo?
            -Foi muito bom, aproveitei para curtir um pouco meu pai, fazer supermercado e almoçar em uma churrascaria típica gaúcha – lambi os lábios.
            -Sentiu falta daqui, não é?
            -Muita falta, Jessy. Mas e o seu domingo, como foi? – perguntei curiosa, sabendo que também assim descobriria como havia sido o de Léo.
            -Fomos para Agudo. O pai e o Léo tinham que entregar um contrato lá e aproveitamos para almoçar na cidade.
            -Que legal - então ele não estava na cidade. Me animei, enquanto via a bagunça se aproximar de nós duas. – É...  Ainda bem que não temos nada a ver com aquilo – apontei para os meninos pintados.
            -Será? – virei na direção que Jessy olhava fixamente. – Nem vem, Léo. A gente não tem nada a ver com as suas putarias.
            -Olha a boca, menina! – ele sorriu e olhou para mim. – Bom dia, guria.
            -Bom dia – tentei não transparecer minha cara de boba.
            -Vim acompanhar vocês até a sala de aula.
            -Não precisa, a gente pode ir sozinha.
            -Será, Jessiany? – olhamos para o lado e já estávamos cercadas por alguns meninos. – Com essas duas vocês estão proibidos de mexer, ok! – Léo foi duro, como se desse uma ordem para eles, o chefe da quadrilha. – Vamos? – assentimos e começamos a atravessar o pátio da faculdade. – Tudo bem contigo? – sussurrou no meu ouvido, tocando minha cintura.
            -Tudo – sorrimos um para o outro.
            -Tu deverias ter vergonha de fazer isso com esses pobres coitados, Leonardo – Jessy nos tirou da nossa bolha. – Lembra como foi que chegou em casa depois do teu trote?
            -Faz parte, maninha. E por isso mesmo que faço hoje – Léo gargalhou.
            -Tu estás me devendo uma coisa? – disse enquanto me divertia com a briga dos irmãos.
            -E o que seria, marrentinha? – seu olhar não me enganava. Leonardo sabia que estava com as fotos e no meu íntimo havia feito de propósito.
            -Eu quero as minhas fotos, quer dizer, nossas.
            -Tudo bem, quer agora? – ia tirar a carteira do bolso quando foi chamado.
Hum! Ele estava carregando nossas fotos na carteira?
            -Léo, o que a gente faz com esses aqui? Levamos para o pedágio? – um moço loiro disse, carregando dois pobres meninos.
            -Vamos levá-los para o centro, Dé. E, marrentinha, – voltou o olhar para mim – nossa conversa continua mais tarde, estão entregues – beijou o meu e o rosto da irmã e saiu com os meninos. Foi aí que percebi que Jessy estava suspirando, mas resolvi ficar quieta. Ainda não éramos tão íntimas.
            E meu primeiro dia de aula foi como imaginava. Muitas apresentações, por sermos a primeira turma de psicologia. A maioria eram meninas, com duas exceções. Um menino tipicamente gay, muito divertido e o outro mais homem que ainda não tinha identificado sua preferência sexual.
            Eu e Jessy nos divertimos muito, fofocando a aula inteira, além de conversarmos sobre nossas vidas.
            Foi ali que descobri muitas coisas sobre minha nova amiga, sua família e principalmente seu irmão. E decidimos juntas, que procuraríamos um estágio, mesmo que fosse pela universidade, precocemente já fazíamos planos para abrirmos nosso consultório juntas.
            Eu havia gostado muito dela e tinha certeza que essa amizade seria para toda a vida.
            Liguei para João perto da hora do almoço, pois Jessy também estava a pé, já que Léo havia desaparecido com os meninos, supostamente indo para o centro da cidade.
            O pai deu uma carona para ela, deixando-a na entrada da fazenda, que não ficava muito longe e seguimos para casa. Quando chegamos, reparei que tinha um jipe parado perto do nosso portão.
            -De quem será esse jipe na nossa garagem?
            -Teu
            -Oi? Como assim? - gritei pulando da Bandeirante e correndo em direção ao Willis.
           - O jipe é teu Bia.
            Sempre fui louca por jipes, como João, e ele não deixava nem eu relar no seu, o que me deixava irritada às vezes, mas agora eu teria o meu.
            -Mas, pai. Deve ter custado uma fortuna.
            -Não vamos falar disso, filha. Tu és meu único bem precioso. Se não fizer para ti vou fazer para quem? – o beijei emocionada e entrei no carro.
            -É lindo. E tu sabes que está realizando meu sonho, não é? – estava chorando.
            -Não quero vê-la chorando – tocou meu rosto carinhosamente.  – Vá dar uma volta – ele sorriu da minha animação fuçando em tudo.
            -Tu não vens?
            -Confio em ti, guria, mas cuidado. Preciso voltar para a delegacia. Tenho um depoimento marcado agora.
            -Obrigada, pai. Nossa!– beijei seu rosto, ainda sentada no banco do motorista – Eu te amo!
            -Também te amo, filha. Agora vá passear um pouco. Só te deixo sair, porque fui eu mesmo que te ensinei a gostar e a dirigir essas coisas - sorrimos cúmplices.
            -Mesmo que morresse de medo que eu ralasse sua pintura original e intacta – revirei os olhos.
            -Exatamente. Vá dar uma volta, e volte antes de anoitecer, não quero te ver zanzando por aí à noite com ele.
            -Pode deixar, Delegado João – bati continência lembrando de Léo. E já sabia para onde ir.
            Queria mostrar meu presente aos meus novos amigos. A Jessy iria enlouquecer, já o Léo...
            Me despedi de João e rumei para a Fazenda Palmital, quando cheguei lá dona  Luíza veio me receber sorridente, já chamando Jessy  dentro da Casa Grande.
            -Que surpresa boa, minha querida. Como estás? – ela me abraçou carinhosamente assim que desci do carro e percebi ali como sentia falta daquele carinho maternal.
            -Estou bem, dona Luíza. Queria mostrar para vocês meu presente – apontei para o jipe.
            -Não acredito, é teu? – Jessy veio correndo e me abraçou. – Parabéns, amiga.
            -É lindo mesmo, filha – as duas olhavam admiradas para o jipe. – João disse que tu sempre foste apaixonada por esses carros, como ele – sorri feliz.
            -E verdade – comecei disfarçadamente a procurar Léo por todos os lugares, mas acho que ele não estava por ali.
            -Vamos entrar, acabei de ajudar a Zefa a bater um bolo de fubá cremoso.
            -O meu preferido – suspirei.
            -Que ótimo, então eu estava adivinhando. Venha, meu amor. Vamos entrar.
            Fui guinchada pelas duas e percebi como eram bonitas. Não tinham trejeitos de pessoas da roça. Jessy era loirinha, delicada, muito bem vestida e cuidada, como sua mãe, com seus quarentas e poucos anos, mantinha as unhas feitas, cabelos pintados em um marrom acobreado. E foi sendo apresentada a Zefa, a ajudante da cozinha, que percebi a grande diferença entre os donos da fazenda e os empregados. Já que ela era uma senhora de mais ou menos cinqüenta anos, porém bem mais acabada. Dava para ver que era nascida e criada ali.
            Já a família de Léo não. Mesmo sentindo que eles amavam aquele lugar.
            Divertimos-nos a tarde inteira em nosso café da tarde, repleto de geléias, pães, meu bolo predileto, café, leite tirado da vaca quentinho e manteiga feita na fazenda. Se não tomasse cuidado engordaria uns dez quilos.
            Não tive nem tempo de perguntar dos homens da família, já que nossa conversa engatava em uma fofoca atrás da outra. Na verdade estava sendo colocada à par de tudo, palavras de Jessianny.
            Perto das cinco horas, ainda na mesa, vimos Seu Flávio chegar irritado e como não tinha me visto ainda, soltou os cachorros de cabeça baixa, tirando o barro da bota.
            -Eu ainda mato aquele moleque, onde se meteu teu filho, Luíza? – foi aí que ergueu os olhos e me viu. – Desculpa, não sabia que estava aqui, filha. Boa tarde.
            -Boa tarde – estava sem graças, principalmente por saber que ele estava louco da vida com o Léo.
            -O que aconteceu, Bem? – Luíza perguntou carinhosa.
            -A mimosa está parindo e não consigo encontrar o Leonardo para me ajudar. Acho que vamos ter que chamar um veterinário dessa vez. Aquele moleque sabe como fazer, mas ele sumiu. E agora a coitada da vaca está berrando de dor.
            Lembrei de um congresso que fui de psicologia em São Paulo uma vez, que tratava de dores de animais. Será que conseguiria amenizar a dor da Mimosa até encontrarem Léo?
            -Desculpa me intrometer, mas eu participei de um congresso há um tempo, que falava que a psicologia pode ajudar nessas horas acalmando o animal. Será que posso tentar até vocês encontrarem o Leonardo ou o veterinário? – vi os olhos do Seu Flávio brilhar e então ele sorriu. Acho que gostou da ideia.
            -Tu não te importas, filha? Ela está no curral.
            -Claro que não, se eu puder ajudar.
            -Já ouvi falar disso também em uma das minhas pesquisas, – Jessy se animou, pulando da cadeira – eu vou ajudar.
            -Então vamos. E tu, Bem, tenta falar com teu filho.
            -Pode deixar. E boa sorte, meninas – acenamos.
            Fomos os três correndo para o curral e quando chegamos lá me deu uma pena de ver aquele bichinho largado no chão e sentindo dor, mesmo que fosse natural para qualquer fêmea parir. Mas pelo que estava vendo, o caso da Mimosa era bem mais grave.
            Cheguei bem perto do rosto da bichinha e comecei a colocar em prática o que havia aprendido.
            Longe das patas, olhei direto nos olhos dela e massageei suas têmporas, descendo para o focinho e sem tirar os olhos dos dela, cantei.
            Ela foi se acalmando, enquanto os funcionários da fazenda, mesmo olhando-me de rabo de olho, continuavam a tentar fazer o bezerrinho nascer.

            Os gritos foram amenizados se não fosse pelo susto que levamos vendo uma caminhonete parar com tudo em frente ao curral.
            -O que significa isso? Saia todo mundo! Vocês estão cantando para a vaca? Quem teve essa brilhante idéia? Ela quer parir, é só enfiar a mão dentro e tirar o bezerro – Leonardo espantou todos, mas quando me viu perdeu a cor.
            -Fui eu que tive a brilhante idéia, acalmando a vaca, enquanto tu não chegavas – levantei encarando-o. – Mas já estou de saída. Espero ter ajudado, Seu Flávio - sorri para o pai do brutamontes.
            -É claro que ajudou, filha. Só peço desculpas por esse moleque sem educação – balancei a cabeça sem coragem de olhar para ninguém. – Não foi essa a educação que te dei, Leonardo. Peça desculpas para a Beatriz agora. Pois se tivesse atendido a droga do celular não precisaria ter trazido ela para cá. – ouvi um silêncio. – AGORA, LEONARDO.
            -Eu... Estava na aula – o machão tinha perdido a fala?
            -Aula?  Sei! Tu estavas na gandaia ao invés de cumprir suas obrigações.
            -Fica na sua, Jessiany.
            -Eu já vou indo. Obrigada pelo café, estava uma delícia, Jessy. A gente se vê amanhã – sai daquele lugar querendo morrer. Como poderia ter me enganado tanto com uma pessoa? Leonardo era xucro e medíocre. Bem diferente da sua família.
            -Bia – olhei para trás e droga, já estava chorando. – Eu...
            -Tchau, Leonardo. Vá fazer seu trabalho – virei às costas e fui em direção a casa grande onde o jipe estava estacionado.
            Não me despedi de Luíza, como ela me pediu que a chamasse no meio da nossa conversa da tarde, indo para casa chorando.
            Estava decepcionada.
            Sabia que Leonardo não era o rei das gentilezas, mas o que ele havia feito me fez enxergar o moleque arrogante e ignorante que era.
            Tentei enxugar as lágrimas quando entrei em casa, já que João estava na sala assistindo jornal.
            -Tudo bem?
            -Tudo. Só preciso de um banho, já desço para preparar o jantar.
            -Onde tu foste? – virou, olhando para minhas roupas.
            -Na fazenda do Seu Flávio – já estava no meio da escada. – Volto já.
            Entrei no meu quarto arrancando toda a minha roupa, chorando de raiva e quando já estava debaixo do chuveiro, esfreguei-me tentando tirar toda a prova de que um dia poderia ter existido aquele grosso na minha vida.
            Já mais calma, desci e preparei um arroz, carne de panela e salada.
            Jantamos em silêncio e subi, dizendo que precisava arrumar minhas coisas para a aula do dia seguinte, mas na verdade estava com tão chateada, que não queria que João me enchesse de perguntas sobre minha tarde, muito menos sobre aquele alienado.

            Antes de dormir minhas lágrimas já haviam secado. E se no dia anterior dormi pensando estar apaixonada por Leonardo Ávila, naquele momento eu o queria morto e enterrado.

2 comentários:

  1. Amei, adore! Obrigada por esse capítulo mais cedo! Esse Leo ui! Beijinhos apaixonada pela esta história; )

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  2. Nossa Fe chorei junto com a Bia, esse Léo viu mais eu sei que no próximo capítulo eles vão o Léo vai pedir perdão a Bia e ela como já ama ele vai perdoa ele,já estou ansiosíssima para o próximo capítulo, estou amando cada vez mais esse casal marrento bjs

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